Tem como objetivo promover o conhecimento dos Princípios Básicos da Doutrina Espírita no seu tríplice aspecto, permitir uma visão funcional e utilitária desses princípios e discutir os problemas atuais da Humanidade na perspectiva espírita.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Aula 1 – História do Espiritismo


Slides 1       Slides 2    Slides 3Os fatos atinentes às revelações dos Espíritos ou fenômenos mediúnicos remontam a mais recuada Antiguidade, sendo tão velhos quanto o nosso mundo; e sempre ocorrendo em todos os tempos e entre todos os povos.
A História, a este propósito, está repleta desses fenômenos de intercomunicação espiritual.

1. Visão Histórica do Desenvolvimento Espiritual do Ser Humano
Situando a mediunidade em termos dos horizontes alcançados pela humanidade − em cada etapa de seu desenvolvimento − Herculano Pires, valendo-se das pesquisas científicas de Bozzano, John Murphy e outros, oferece-nos valiosas informações que são úteis de serem lembradas. Assim:
No horizonte tribal imperava o mediunismo primitivo. É a designação da mediunidade em sua expressão natural; constitui a fase prática, experimental da mediunidade. O primeiro fato a ser identificado nessa fase é a captação de forças misteriosas que imantam objetos e coisas, podendo atuar sobre as criaturas humanas, conhecidas pelos nomes polinésicos de "mana" e "orenda". "Essa força primitiva corresponde ao ectoplasma de Richet, a força ou substância mediúnica das experiências metapsíquicas, cuja ação foi estudada cientificamente por Crawford, professor de mecânica da Universidade Real de Belfast, na Irlanda". O homem primitivo ainda não desenvolveu suficientemente seu psiquismo e interpreta todas as coisas de modo rudimentar, sem razão.
No horizonte agrícola, o animismo e culto aos ancestrais. Nessas primeiras formas sedentárias de vida social, o animismo tribal caracteriza-se pela fusão da experiência e da imaginação com desenvolvimento do seu psiquismo estruturando o progresso do mediunismo, através da concepção fetichista da Terra-Mãe e Céu-Pai, que mais tarde dá origem à mitologia egípcia: Osíris, Deus pai, que fecunda Ísis, deusa terra, gerando o filho Hórus. Dessa fusão surge a mitologia popular, impregnada de magia e prática do culto dos ancestrais.
No horizonte civilizado, o mediunismo oracular. Nesta fase surgem os deuses representando as forças da natureza, porém personalizadas, demonstrando maior capacidade de abstração do homem, com formulação de juízo ético e moral, começando a romper os liames da organização social para descobrir-se no processo de tornar-se indivíduo. A representação dessa fase são os oráculos, lugares sagrados procurados por todos, pois representavam uma força sobrenatural, transmitida a eles pela pitonisa ou o próprio oráculo. Nessa fase ainda não há individualização mediúnica, caracterizando-se como fase de transição para o culto individual dos Espíritos.
No horizonte profético, o mediunismo bíblico. Resultante da natural evolução do homem tribal, o homem gregário já visualiza sua individualização. O poder do raciocínio o elevou à condição de senhor da sociedade e da natureza, conseguindo se impor ao invés de se submeter. Descobre sua capacidade, seu talento para manobrar as circunstâncias com maior habilidade. Surgem as individualidades dos sábios, dos místicos, profetas; caracteriza-se pela aceitação do monoteísmo, acentuação dos atributos éticos, estabelecimento de ligações diretas do Deus individual com o indivíduo humano, no caso o profeta, que representa o médium que rompeu o gregarismo psíquico, arvorou-se em senhor de si mesmo, passou a responder pessoalmente pelos seus pronunciamentos mediúnicos. O profeta apresenta-se como indivíduo social, mediúnico e espiritual. Assim, dado o avanço de sua liberdade, surgem também os excessos e abusos que caracterizam o indivíduo grego-romano e o profeta hebraico.
No horizonte espiritual, a mediunidade positiva. Fase em que não mais estamos no plano místico e misterioso do mediunismo, mas no plano científico, racional da mediunidade. É nessa fase que se observa uma transcendência humana. A mediunidade torna-se um fato de observação e de estudo de todos os que se interessarem pelo problema. Observe que na Idade Média, o fenômeno mediúnico de possessão é sempre tomado como manifestação demoníaca ou sagrado. O homem, não tendo atingido o horizonte espiritual, não pode conceber que o Espírito comunicante seja da sua mesma natureza. Kardec explica, em A Gênese, capítulo primeiro, porque o Espiritismo só poderia surgir em meados do século dezenove, depois de longa fermentação dos princípios cristãos da Idade Média e do desenvolvimento das ciências na Renascença. Escreveu: "O Espiritismo, tendo por objeto o estudo de um dos elementos constitutivos do Universo, toca forçosamente na maioria das ciências. Só poderia, pois, aparecer, depois da elaboração delas. Nasceu pela força mesma das coisas, pela impossibilidade de tudo explicar-se apenas pelas leis da matéria."
2. Os Precursores da Doutrina Espírita“É impossível fixar uma data para as primeiras aparições de uma força inteligente exterior, de maior ou menor elevação, influindo nas relações humanas. (...)Entretanto, não há época na história do mundo em que não se encontrem traços de interferência preternaturais e o seu tardio reconhecimento pela humanidade. A única diferença entre esses episódios e o moderno movimento é que aqueles podem ser apresentados como casos esporádicos de extraviados de uma esfera qualquer, enquanto os últimos têm as características de uma invasão organizada. Como, porém, uma invasão poderia ser precedida de pioneiros em busca da terra, também o influxo espírita dos últimos anos poderia ser anunciado por certo número de incidentes, suscetíveis a verificação, desde a Idade Média e até para trás. Uma data deve ser fixada para início da narrativa e, talvez, nenhum melhor que a história do vidente sueco Emmanuel Swedenborg”.
Emmanuel SwedenborgSwedenborg era sueco, nascido em 1688 e desencarnado em Londres em 1772. Homem de extraordinária cultura, era engenheiro de minas e uma autoridade em metalurgia, além de ser engenheiro militar e profundo conhecedor de Física e Astronomia. Era zoologista, anatomista, financista e político, além de ser estudioso da Bíblia e de teologia.Desde a infância era médium vidente e logo depois lhe surgiu a clarividência a distância."(...) Assim, no conhecidíssimo caso de Gothenburg, onde o vidente observou e descreveu um incêndio em Estocolmo, a trezentas milhas de distância, com perfeita exatidão, estava ele num jantar com dezesseis convidados, o que é um valioso testemunho. O caso foi investigado nada menos que pelo filósofo Kant, que era seu contemporâneo. (...)" "(...) Falando da morte de Polhem, diz o vidente: "Ele morreu segunda-feira e falou comigo quinta-feira. Eu tinha sido convidado para o enterro. Ele viu o coche fúnebre e presenciou quando o féretro baixou à sepultura. Entretanto, conversando comigo, perguntou por que o haviam enterrado, se estava vivo. Quando o sacerdote disse que ele se ergueria no Dia do Juízo, perguntou por que isso, se ele estava de pé. Admirou-se de uma tal coisa, ao considerar que, mesmo agora, estava vivo". (...)" Lançou alguns livros expondo as idéias que lhe surgiram com as visões que tinha de outros planos.Muitos anos antes do surgimento do Espiritismo como Doutrina Codificada, apresentou as seguintes idéias, dentre outras, mais tarde comprovadas pelo Espiritismo:·   existem planos espirituais diversos para os quais nos dirigimos após a morte, segundo nossas condições espirituais;·   os planos espirituais não compreendem situações completamente diferentes da Terra: lá existem família, casas, templos, estrutura social hierarquias, etc;·   há espíritos superiores e inferiores ao homem;·   não mudamos com a morte; ·   não há penas eternas;·   as ligações afetivas continuam no plano espiritual.Swedenborg era considerado, por aqueles que conviviam com ele, como uma pessoa trabalhadora, bondosa, serena, sempre disposta à conversação e, na História do Espiritismo, é apontado como o primeiro grande médium dos tempos modernos, pioneiro do conhecimento psíquico. São exemplos de suas obras: "Céu e Inferno" e "A Nova Jerusalém".
Edward IrvingA história de Edward Irving e sua experiência, entre 1830 e 1833, com as manifestações espíritas, são de grande interesse.Nascido em Annan, em 1792, pertencente a uma classe pobre de trabalhadores braçais escoceses, teve uma infância e juventude dura e aplicada aos estudos. Casou-se com a filha de um ministro religioso e foi nomeado assistente do mais famoso clérigo da Escócia.A esse tempo havia uma pequena igreja escocesa em Hatton Garden, fora de Holborn, em Londres, que tinha perdido o seu pastor e se achava em posição crítica, quer espiritual, quer financeiramente. A vacância foi oferecida (a Irving) (...) depois de alguma reflexão, aceitou-a. Aí a sua eloquência sonora e as suas luminosas explicações do Evangelho começaram a atrair a atenção (...) De lado a sua oratória, parece que Irving foi um pastor consciencioso e muito trabalhador, que lutava continuamente para satisfazer as necessidades materiais dos mais humildes elementos de seu rebanho, sempre pronto, dia e noite, no cumprimento de seu dever.Devido ao seu próprio modo de pensar Irwing enfrentou muitas lutas com autoridades de sua igreja.Em 1830, ao oeste da Escócia, forma registrados fenômenos de comunicações entre os sensitivos Campbell e MacDonald. As estranhas línguas em que ambos falavam, por duas vezes eram ouvidas e suas manifestações eram acompanhadas por milagres de cura e outros sinais.O pastor escocês mandou um emissário para investigar o caso. Verificou-se a exatidão do mesmo. Logo depois, os Espíritos irromperam na própria igreja de Irwing.Foi em julho de 1831 que ocorreu o boato de que certos membros da congregação tinham sido tomados de maneira estranha em suas próprias residências e que discretas manifestações ocorriam na sacristia e outros recintos fechados.Em outubro do mesmo ano, as manifestações se deram á vista do público e o “(...) prosaico serviço da igreja da Escócia foi subitamente interrompido pelos gritos de um possesso. Foi tão rápido e com tamanha violência, tanto no serviço matinal quanto no da noite, que se estabeleceu o pânico na igreja de tal modo que...” com muito custo foi que Irwing conseguiu evitar uma tragédia.
Andrew Jackson Davies“Filho de pais humildes e incultos, nasceu, em 1826, num distrito rural do Estado de New York (EUA), às margens do rio Hudson, entre gente simples e ignorante. Era um menino pouco atilado, falto de atividade intelectual, corpo mirrado, sem nenhum traço que denunciasse a sua excepcional mediunidade futura.Tal como sucedeu com Francisco Cândido Xavier, o célebre médium brasileiro dos dias atuais, Jackson Davis começou a ouvir, nos derradeiros anos de sua infância vozes agradáveis e gentis, seguidas de belas clarividências, nele se desenvolvendo ao mesmo tempo os dons mediúnicos com aplicação em diagnóstico médicos.Em 6 de março de 1844, provavelmente em corpo perispirítico, foi transportado da pequena localidade de Poughkeepsie, onde morava, às montanhas de Catskill, quarenta milhas distantes. Nestas montanhas encontrou dois anciães, que lhe revelaram ser seus mentores, posteriormente identificados como os Espíritos de Galeno e de Swedenborg. Foi este o primeiro contacto que o rapazinho teve com os chamados mortos.Com o tempo, sua mediunidade ganhou novos rumos. Quando em transe, falava várias línguas, inclusive o hebraico, todas dele desconhecidas, expondo admiráveis conhecimentos e Geologia e discutindo com rara habilidade intrincadas questões de Arqueologia histórica e bíblica, de Mitologia, bem como temas lingüísticos e sociais – apesar de nada conhecer de gramática ou de regras de linguagem e sem quaisquer estudos literários ou científicos. De tal modo eram as respostas, que "fariam honra – segundo o Dr. Jorge Bush, professor da Universidade de New York – a qualquer estudante daquela idade, mesmo que, para as fornecer, tivesse consultado todas as bibliotecas da Cristandade”.(...) Durante dois anos Davis, ditou, em transe inconsciente, um livro sobre os segredos da Natureza, dado a público, em 1847, sob o título "Os Princípios da Natureza". A ele Conan Doyle se referiu, dizendo ser "um dos livros mais profundos e originais de Filosofia" e conta, nos Estados Unidos, com dezenas de edições. (...)Era honrado, sério, incorruptível, amante da Verdade e sinceramente compenetrado de sua responsabilidade naqueles acontecimentos renovadores. Na sua pobreza material, jamais esqueceu a justiça e a caridade para com todos.Suas faculdades medianímicas chegaram a maior desenvolvimento depois dos 21 anos de idade, e ele pôde então observar mais claramente o processo desencarnatório de várias pessoas, narrando-o em todas as minúcias. Suas descrições estão concordes inúmeras outras feitas por médiuns de diferentes países, adquirindo na obra mediúnica de Francisco Cândido Xavier complementação assaz relevante.Antes de 1856, Jackson Davis profetizou o aparecimento dos automóveis e dos veículos aéreos movidos por uma força motriz da natureza explosiva, como também as máquinas de escrever e, ao que tudo indica, as locomotivas com motores de combustão interna, é extraordinária, pasmosa mesmo, a riqueza de detalhes que acerca desses inventos Davis deixou estampados em sua obra "Penetralia", hoje centenária.Afora isso, ele também predisse, em 1847, a manifestação ostensiva dos Espíritos com as criaturas humanas, frisando que não levaria muito tempo para que essa verdade se revelasse numa exuberante demonstração.Sua obra inicial, de grande luminosidade, foi uma preparação para o aparecimento do Espiritismo, e numa de suas notas, datada a 31 de março de 1848, lê-se este significativo trecho:“Esta madrugada um sopro fresco passou pelo meu rosto, e ouvi uma voz, suave e firme, dizer-me: "Irmãos, foi dado início a um bom trabalho; contempla a demonstração viva que surge.” Pus-me a cismar no significado de tal mensagem.Muito longe estava ele de supor que, justamente na noite do citado dia, as irmãs Fox, em Hydesville, conversariam, por meio de batidas, com o Espírito de um morto, inaugurando o grandioso movimento espiritista mundial:Por causa desse fato, Jackson Davis passou a ser citado por alguns espíritas com "o profeta da Nova Revelação". (...)(...) Nos últimos anos de vida, Andrew Jackson Davis dirigiu uma pequena livraria em Boston, e aos 13 de janeiro de 1910, com a idade de 84 anos, desencarnava na sua residência de Watertown, no Estado de Massachusetts, legando à Humanidade o exemplo dignificante de sua frutuosa existência.”
3. A Invasão Organizada e Os Fenômenos de HydesvilleEm História do Espiritismo, Conan Doyle documenta boa parte da evolução da mediunidade, lembrando que embora se considere a data de 31/03/1848 como o marco inicial, os fatos espíritas existiram desde todos os tempos. A sua narrativa começa, assim, por volta de 1740, quando Swedenborg tornou-se famoso pela vidência à distância.A seguir, escreve sobre Edward Irving, Andrew Jackson Davis (o profeta da nova revelação), o episódio de Hydesville, a carreira das Irmãs Fox, as primeiras manifestações na América, a aurora na Inglaterra, as pesquisas de Sir William Crookes etc.Em 11 de dezembro de 1847, John D. Fox mudou-se com sua família, para Hydesville, vilarejo típico do Estado de New York, cerca de 32 km da cidade de Rochester, no Condado de Wayne, indo morar numa casa considerada assombrada pelos antigos moradores, por se ouvirem ali estranhos ruídos.No entanto, só no ano seguinte foi que os ruídos, notados pelos inquilinos anteriores, voltaram a ser ouvidos. A família Fox, de religião metodista, só se sentiu seriamente perturbada a partir de março de 1848, quando as batidas tornaram-se mais violentas e o barulho de móveis sendo arrastados, mais nítido. As meninas, Margaret, de 14 anos e Kate, de 11, assustadas com os inexplicáveis ruídos, recusaram-se a dormir sozinhas em seu quarto e passaram para o dos pais.Na noite de 31 de março de 1848, as pancadas tornaram-se tão violentas que Kate, a mais jovem, desafiou a força invisível que as causava, a repetir as batidas que ela dava com os dedos. A resposta foi imediata, embora o desafio da mocinha tivesse sido feito em palavras brandas. Cada pedido era respondido por um golpe. A mãe das meninas, que acompanhava o episódio, teve então a idéia de fazer um teste: pediu que fossem indicadas, por meio de pancadas, a idade de seus filhos. As respostas, corretas, não tardaram.Desejando que o fenômeno fosse testemunhado por outras pessoas, a família chamou alguns vizinhos, naquela mesma noite, que também fizeram perguntas e receberam respostas, por meio de batidas. Com o passar das horas, e conforme a declaração da inteligência invisível, descobriu-se que era um espírito; tinha sido assassinado naquela casa, há cinco anos passados, e enterrado na adega. Utilizando o alfabeto para obter respostas por meio de arranhões, nas letras correspondentes, foi obtido o nome do morto Charles B. Rosma (o esqueleto humano foi descoberto ali, muito mais tarde, em 1904).No dia seguinte, a notícia já se havia espalhado e a casa ficou repleta de curiosos. Gente numerosa ouviu os ruídos insólitos e houve sérias investigações firmando-se a autenticidade do fenômeno.Indagado a respeito da finalidade de semelhante tumulto, respondeu um espírito: “Nosso objetivo é que a Humanidade inteira viva em harmonia e que os céticos se convençam da imortalidade da alma. (...)”Assim, os fatos vieram confirmar a estranha denúncia de um morto, que vinha relatar a ação criminosa de que fora vítima, havia anos.Entretanto, é preciso considerar o episódio em suas verdadeiras finalidades, porque inúmeros crimes semelhantes se dão e nem por isso as vítimas os denunciam, de modo semelhante. Nem a finalidade da comunicação era a punição do culpado (que disso se encarregam, sempre, as leis divinas), porque à pergunta sobre se o assassino podia ser punido pela lei, se podia ser levado ao Tribunal, nenhuma resposta foi dada."É para unir a humanidade e convencer as mentes céticas da imortalidade da alma", disseram os Espíritos; era de fato o início de um movimento de caráter quase universal, tendente a despertar a Humanidade para a vida espiritual, que seria revelada, pouco depois, pela Codificação da Doutrina Espírita, tarefa gigantesca a ser realizada pelo grande missionário Allan Kardec."Era como uma nuvem psíquica, descendo do alto e mostrando-se nas pessoas suscetíveis", escreve A. Conan Doyle, em sua "História do Espiritismo", porquanto os fatos insólitos, os raps, produzidos pelos Espíritos batedores, se multiplicavam, despertando consciências através de mensagens apropriadas.
4. As “Mesas Girantes”Mesas de vários tipos e tamanhos (de preferência pequenas) levantavam um pé, movimentavam-se subindo, dançando; ditavam mensagens; compunham música; iravam no ar, sem qualquer apoio.Eram as chamadas "mesas girantes", que invadiram vários países (Estados Unidos, onde foram precedidas pelo conhecido "episódio de Hydesville", Canadá, França, Alemanha, Itália, Inglaterra, Brasil), despertando as consciências adormecidas no comodismo de religiões paternalistas ou narcotizadas pelos enleios do materialismo grosseiro, das vidas sem perspectivas espirituais definidas.Emma Hardinge, em sua "History of Modern American Spiritualism", relata que "as mesas não se limitavam a levantar-se sobre um pé para responder às perguntas que se faziam, moviam-se em todos os sentidos, giravam sob os dedos dos experimentadores, às vezes se elevavam no ar, sem que se descobrissem as forças que as tinham suspendido".Muitos anos depois outro notável pesquisador psíquico assim se referia aos fenômenos das "mesas girantes":"Paris inteira assistia, atônita e estarrecida, a esse turbilhão feérico de fenômenos imprevistos que, para a maioria, só alucinadas imaginações poderiam criar, mas que a realidade impunha aos mais céticos e frívolos." - Dr. Antônio J. Freire, "Da Evolução do Espiritismo", 1959.Nos anos de 1853 a 1855 as "mesas girantes" constituíram, aparentemente, um passatempo para animar a frivolidade dos salões e a curiosidade das massas, mas atendiam, em verdade, a uma determinação do Alto, despertando consciências para a revelação concreta da imortalidade da alma e para o recebimento do Consolador, prometido por Jesus há muitos séculos e consubstanciado no Espiritismo, que logo seria ditado a Kardec, pois os tempos eram chegados. Para tirar os homens do torpor espiritual em que viviam, para que se preparassem para receber uma nova Revelação era preciso, em verdade, que ocorressem fenômenos capazes de lhes provocar o medo, o assombro, a maior curiosidade. E assim foi. O fato de objetos inanimados, as mesinhas pés-de-galo, o mocho (banco de piano), as cestinhas, movimentarem-se sozinhos em todos os sentidos, girando, dançando, ditando mensagens, dando respostas inteligentes, compondo músicas, provocou tremenda celeuma em todas as classes sociais, cada qual procurando uma solução para ele, de acordo, é natural, com seus conhecimentos, ideologias religiosas e princípios filosóficos. A ciência acadêmica simplesmente negava os fenômenos, de cima de sua imensa sabedoria, como aliás já fizera, antes, com outros fatos, também incontestáveis; entretanto, muitos de seus membros, vindo a estudá-los, honestamente lhes proclamaram a veracidade.A Igreja, convencional, não os podendo negar, simplesmente, os atribuía ao demônio, como ainda hoje continua fazendo, por comodismo. Isso não impedia, entretanto, que o Padre Ventura de Raulica, o mais ilustre representante da teologia e filosofia católicas do Século XIX, da França, chamasse os fenômenos de "o maior acontecimento do século".Os fenômenos das "mesas girantes" eram produzidos, como sabemos, por Espíritos e a maior lição que deles podemos tirar é a da imortalidade da alma e a da comunicação, que sempre houve, entre os encarnados e os desencarnados.
5. Allan Kardec e a CodificaçãoNascido às 19 horas do dia 03 de outubro de 1804, em Lyon, na França, e desencarnado em Paris, no dia 31 de março de 1869. Era descendente de antiga família lionesa, católica, de nobres e dignas tradições. Seus pais foram Jean-Baptist Antoine Rivail, magistrado, juiz, e Jeanne Louise Duhamel, moradores em Lião, rua Sala, 76. O seu verdadeiro nome era Hippolyte-Léon-Denizard Rivail. "Hippolite" em família; "Professor Rivail" na sociedade e "H-L-D. Rivail" na literatura era, desde os 18 anos mestre colegial de Ciências e Letras, e, desde os 20 anos renomado autor de livros didáticos. Suas obras espíritas foram escritas com o pseudônimo de Allan Kardec. Destacou-se na profissão para a qual fora aprimoradamente educado na Suíça, na escola do maior pedagogo do primeiro quartel do século XIX, de fama mundial e até hoje paradigma dos mestres: João Henrique Pestalozzi. E, em Paris, sucedeu ao próprio mestre.  Sabe-se que ele tinha estudos de magnetismo, que lhe foram muito proveitosos e chegou mesmo a aconselhar o estudo da ação magnética em conexão com o Espiritismo. Verificou, no entanto, que certos tipos de fenômenos escapa às possibilidades do magnetismo. Daí por diante, forçosamente teremos de conhecer a predominância de uma força superior e, ainda mais, inteligente. Descortina-se-lhe um horizonte mais amplo, pois, agora, trava relações com o elemento espiritual ou extra-humano. É o mundo espiritual que vem, através dos mentores, dar o ensino original, a doutrina pura, pelo princípio da generalidade e concordância.
A MissãoAllan Kardec contava 51 anos quando se dedicou à observação e estudo dos fenômenos espíritas, sem os entusiasmos naturais das criaturas ainda não amadurecidas e sem experiência. A sua própria reputação de homem probo e culto constituiu o obstáculo em que esbarraram certas afirmações levianas dos detratores do Espiritismo. Dois anos depois, em 1857, divulgava "O Livro dos Espíritos". Em 1858 iniciava a publicação da famosa "Revue Spirite". Em 1861 dava a lume "O Livro dos Médiuns". Em 1864 aparecia "O Evangelho segundo o Espiritismo"; seguido de "O Céu e o Inferno" em 1865. Finalmente, em 1868 "A Gênese", completava o Pentateuco do Espiritismo. Na ingente tarefa de codificação do Espiritismo, Allan Kardec contou com o valioso concurso de três meninas que se tornaram às médiuns principais no trabalho de compilação de "O Livro dos Espíritos": Caroline Baudin, Julie Baudin e Ruth Celine Japhet. As duas primeiras foram utilizadas para a concatenação da essência dos ensinos espíritas e a última para os esclarecimentos complementares. Ultimada a obra e ratificados todos os ensinamentos ali contidos, por sugestão dos Espíritos, Allan Kardec recorreu a outros médiuns, estranhos ao primeiro grupo, dentre eles Japhet e Roustan, médiuns intuitivos; a senhora Canu, sonâmbula inconsciente; Canu, médium de incorporação; a Sra. Leclerc, médium psicógrafa; a Sra. Clement, médium psicógrafa e de incorporação; a Sra. De Pleinemaison, auditiva e inspirada; Sra. Roger, clarividente; e Srta. Aline Carlotti, médium psicógrafa e de incorporação. Escrevendo sobre a personalidade do ínclito mestre, o emérito Dr. Silvino Canuto Abreu afirmou o seguinte: "De cultura acima do normal nos homens ilustres de sua idade e do seu tempo, impôs-se ao geral respeito desde moço. Temperamento infenso à fantasia, sem instinto poético nem romanesco, todo inclinado ao método, à ordem, à disciplina mental, praticava, na palavra escrita ou falada, a precisão, a nitidez, a simplicidade, dentro dum vernáculo perfeito, escoimado de redundâncias”.Se ele foi o escolhido para a grandiosa missão de receber os ensinos do Alto e organizar a Codificação da Doutrina, é obvio que já tinha, em si mesmo, a urdidura espiritual do verdadeiro missionário. O Allan Kardec racionalista, moralista, universalista naturalmente se preparou, com bagagem do passado, para a obra missionária que realizou.Allan Kardec pregou a reforma moral nova, sem instituir nenhum sistema dogmático, sem exigir penitências. Mostrou, sem subterfúgios, sem artifícios, que nos basta a observância dos ensinos do Cristo, e eis a moral mais pura e duradoura. Ensinou uma filosofia de vida, ofereceu instrumentos válidos para que a Doutrina Espírita possa ter influência fecunda na vida social, mas também nos faz ver que é necessário viver como homens de nossa época. Podemos, pois afirmar que Allan Kardec personificou, de fato, uma das maiores missões da Terra.Verdadeira enciclopédia de ensinamentos transcendentais, a Codificação (...) foi o fruto, sazonado e bendito, de um plano arquitetado na Espiritualidade, havendo um de seus elaboradores concretizado a parte que lhe cabia desempenhar, já encarnado na Terra: Allan Kardec.
O Livro dos EspíritosE foi da comparação e da reunião de todas essas conclusões, ordenadas, classificadas e muitas vezes refeitas no silêncio da meditação, que Allan Kardec formou a 1ª edição de O Livro dos Espíritos que veio à luz em 18 de abril de 1857, com 176 páginas, apresentando o assunto distribuído em duas colunas: possuía 501 perguntas e respostas acrescidas e notas e comentários de Kardec. Em 18 de março de 1860 foi lançada a 2ª edição como a definitiva com 1.018 questões. Esta obra é o marco inicial da Doutrina Espírita. Contêm os princípios básicos do Espiritismo, expostos de forma lógica, por meio de diálogos com os Espíritos e com comentários de Kardec, sua linguagem é simples e direta. Composto de quatro partes ou livros, a saber: As Causas Primárias, Mundo dos Espíritos, As Leis Morais, Esperanças e Consolações. É considerado o Código de uma nova fase da evolução humana.
O Livro dos Médiuns − A 1ª edição em janeiro de 1861, e a 2ª edição em outubro de 1861 como a definitiva. A finalidade deste livro é desenvolver a parte prática da Doutrina, mediante o estudo sistemático e perseverante da rica e variada fenomenologia, com base na pesquisa, por método científico próprio. Kardec a considerou como a continuação de O Livro dos Espíritos, já que os espíritos o orientaram na sua elaboração. Segundo seu subtítulo, ele é o Guia dos médiuns e dos Doutrinadores, e que contém o ensino dos Espíritos sobre a teoria de todos os gêneros de manifestações, os meios de comunicação com o Mundo Espiritual, o desenvolvimento da mediunidade, as dificuldades e os perigos que se podem encontrar na prática do Espiritismo. Tem duas partes: Noções Preliminares e das Manifestações Espíritas. Considera­-se o Maior tratado sobre a fenomenologia mediúnica da humanidade.
O Evangelho Segundo o Espiritismo − A 1ª edição em abril de 1861, a 3ª edição em 1865 como a definitiva. Contém a explicação das máximas morais do Cristo, sua concordância com o Espiritismo e sua explicação as diversas posições da vida. Orienta o Homem para a reforma íntima, para combater os vícios, para uma nova filosofia de vida, mostrando-lhe, sobretudo, a necessidade de ser bom, porque Fora da Caridade não há Salvação. Nesta obra o Evangelho de Jesus é explicado em espírito e verdade, cujo ensino moral é o único que nos pode conduzir à reforma íntima pela obediência às leis divinas, inscritas na própria consciência do Homem. É considerada a Chave com que se explica o Evangelho.
O Céu e o Inferno − A 1ª edição em 01 de agosto de 1865. Tem como segundo título A Justiça Divina segundo o Espiritismo. Este livro trata do exame comparado das doutrinas sobre a passagem da vida corporal à vida espiritual, sobre as penalidade e recompensas futuras, sobre os anjos e demônios, sobre as penas, etc. Seguido de numerosos exemplos acerca da situação real da alma durante e depois da morte. Esclarece o destino do Homem, combate o niilismo (não acredita na vida após a morte), esclarece o temor da morte que achem do instinto de conservação: mostra o absurdo da doutrina das penas eternas: e demonstra que o céu, o inferno e o purgatório na verdade são estados de consciência que o próprio Espírito cria e os quais vivem após a morte. Tem duas partes: Doutrina e Exemplos (refere-se a comunicações psicográficas de diversos Espíritos desencarnados). Esta obra é considerada como O Código da Justiça Divina.
A Gênese − A Gênese, os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo - 1ª edição em 06 de janeiro de 1868, a 2ª também em 1868 como a definitiva. Fecha o ciclo das obras da Codificação. Neste livro Kardec deixa o campo exclusivamente doutrinário para a faixa de relações da Ciência com as demais Ciências, revelando de maneira prática as contribuições do Espiritismo para o desdobramento da nossa Cultura. Os dados Espíritas lhe serviram para colocar o problema da origem planetária em termos científicos e na explicação dos milagres do Cristo e das predições ele contribuiu para desmistificação do Cristo e revelou, com antecipação de um século, as leis básicas do fenomenismo paranormal. Divide-se em três partes: A Gênese, os Milagres e as Predições do Cristo. Este livro é considerado A União da Ciência com a Religião, ou A Explicação dos fatos religiosos pela Ciência.Em 1859, Kardec publicou a 1ª edição de O que é o Espiritismo. Esta brochura de apenas uma centena de páginas, apesar de não pertencer à codificação propriamente dita, apresenta uma exposição sumária dos princípios da Doutrina Espírita, uma visão geral que permite abranger o conjunto num quadro restrito.A 1° edição de Obras Póstumas foi publicada em 1890, a 2ª edição também de 1890. Este livro representa o testamento doutrinário de Allan Kardec. Reúne os seus derradeiros escritos e anotações íntimas, destinadas a servir mais tarde para a elaboração da História do Espiritismo, que ele não pôde realizar.

Referências Bibliográficas
Apostila do Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita – Programa I – O Espiritismo: seus fundamentos e suas propostas – Federação Espírita do Paraná.BARBOSA, Pedro Franco. As “Mesas Girantes”. In: - O Espiritismo Básico. 2 ed. (1 ed. FEB, revista e ampliada pelo autor). Rio de Janeiro: FEB, 1986.DOYLE, Arthur Conan. A História do Espiritismo. A História de Swedenborg. In:_. A História do Espiritismo. São Paulo: Pensamento, 1960.PIRES, José Herculano. O Espírito e o Tempo: Introdução Antropológica ao Espiritismo. 3.ed. São Paulo : EDICEL, 1979. WANTUIL, Zêus & THIESEN, Francisco. Andrew Jackson Davis. In:_. Allan Kardec. Pesquisa Bibliográfica e Ensaios de Interpretação. Rio [de Janeiro]: FEB., 1980. v. 2.

Por que conhecer o Espiritismo?

A maioria das pessoas, vivendo a vida atribulada de hoje, não está interessada nos problemas fundamentais da existência. Preocupa-se primeiramente com seus negócios, com seus prazeres, com seus problemas pessoais, e pensam que questões como «a existência de Deus» e «a imortalidade da alma» são da competência de sacerdotes, de chefes religiosos, filósofos e teólogos. Quando tudo vai bem em suas vidas, estas pessoas nem se lembram de Deus e, quando lembram, é para fazer uma oração apenas ou ir à igreja, como se tais atitudes fossem simples obrigações das quais todos devem se desincumbir de uma maneira ou de outra. À religião se torna mera formalidade social, algo que as pessoas devem ter, e nada mais; no máximo, será um desencargo de consciência, para estar bem com o Criador. Tanto que muitos nem alimentam firme convicção daquilo que professam, carregando sérias dúvidas a respeito de Deus e da continuidade da vida após a morte.

Quando, porém, tais pessoas são surpreendidas por um grande problema, a ruína financeira, a perda de um ente querido, uma doença incurável — fatos que acontecem na vida de todos nós — não encontram em si mesmas a fé necessária, nem a sabedoria para enfrentar o problema com coragem e resignação, caindo, invariavelmente, no desespero.

O conhecimento espírita abre-nos uma visão ampla e racional da vida, explicando-a de maneira convincente e permitindo-nos iniciar uma transformação interior, aproximando-nos de Deus.

Texto extraído do livro Doutrina Espírita para principiantes, organizado por Luis Hu Rivas.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Atualidade do Pensamento Espírita

Vianna de Carvalho

Face às incomparáveis conquistas da ciência e da tecnologia que se apresentam nos tempos modernos, o homem contempla o firmamento e detém-se ante a magnitude das galáxias, que a própria imaginação tem dificuldade de compreender, mantendo-se deslumbrado ante a glória do Macrocosmo. Voltando-se para o reino das micropartículas, comove-se, reflexionando a respeito da matéria decompondo-se em energia e essa retomando a forma incessantemente. Examinando um feixe de luz, o vê constituído de partículas e ondas que o enternecem, realizando um verdadeiro milagre no campo das combinações dos elementos básicos do Universo.
Esse ininterrupto fenômeno pulsante que desvela a vida, concita-o a mergulhar o pensamento na Grande Realidade que é Deus, o legítimo Programador de tudo quanto existe.
Sente-se, então, inevitavelmente impulsionado á crença religiosa pela razão, diante da impossibilidade de tudo reduzir ao caos do princípio sem origem ou do nada absurdo.
Existindo, entende que o nada deixa de ter sentido e desaparece das suas reflexões filosóficas. Enriquece-se de esperanças e procura mergulhar em uma doutrina que possua conteúdos científicos, de forma a interpretar a glória do Universo, marchando com as conquistas que fascinam a inteligência e enternecem o sentimento.
Tal doutrina, tem-na o Espiritismo, que avança com o gigantismo das observações humanas, sem deter-se ou alterar-se ante a marcha do progresso. Pelo contrário, oferece resposta às interrogações que pairam perturbadoramente naqueles que se embrenham pelos labirintos da investigação, e sentem-se sem o reforço da crença religiosa, única que lhe pode oferecer segurança emocional para compreender a Causalidade absoluta de onde tudo procede.
O Espiritismo é, portanto, a ponte que une a ciência à religião e reciprocamente, facultando o ininterrupto crescer do conhecimento lógico sem o deperecimento dos valores ético-morais disso decorrentes.
Fundamentando toda a sua moral na ensinada e vivida por Jesus, o Espiritismo propicia o encontro da criatura com o seu Criador, e elucida os enigma do ser, da sua evolução e progresso, do seu passado e do seu futuro, apontando os rumos superiores que serão alcançados pela tenacidade de todos quantos se empenharern pela conquista do Infinito.
Com a Doutrina Espírita desaparecem os enigmas da fé dogmática e surge aquela que tem por fundamento os fatos capazes de serem encontrados em todas as épocas e povos da humanidade.
Graças à sua contribuição, o indivíduo se faz mais digno e compreende facilmente a justiça de Deus que o orienta e conduz à elevação moral, pontificando na permanente autotransformação para melhor e auto-iluminação, de forma que se identifique cada vez mais com a Fonte Geradora de vida.
À medida que a Ciência realiza novos descobrimentos, longe de sombrear ou abalar os alicerces do Espiritismo, mais o confirma, porquanto, em realidade, nada se descobre que já não existisse anteriormente e que somente permanecia ignorado, sendo, portanto, uma realidade constitutiva das leis de Deus, que aceita como necessários ao aprimoramento do ser humano.
À medida que a Física newtoniana ou linear se direcionou para a elevada expressão de natureza quântica, mais se tornou factível o entendimento da realidade espiritual do ser, da mesma forma que a Biologia celular, ao marchar no rumo da molecular, facultou mais ampla compreensão dos mecanismos das células, especialmente dos neuropeptídeos e de outros elementos que os constituem, fazendo parte dos equipamentos vitais da existência física. Por outro lado, os avanços sobre a interpretação do Cosmo, graças á valiosa contribuição dos telescópios colocados em foguetes que saíram da Terra, e em particular, do Hubble, conseguindo melhor caracterizar os buracos negros, fotografar o nascimento e a morte de galáxias, ocorridos há milênios, e dantes jamais sonhados, a astrofísica concebe a possibilidade da existência de outros universos relativos e finitos, demonstrando a eterna criação por parte da Realidade Absoluta.
Ademais, a Psicologia e as diferentes ciências da alma, penetrando a sua sonda de investigação no homem integral, defronta-lhe o Espírito imortal, assim explicando, racional e logicamente, as matrizes ande se encontram os fatores que propiciam as heranças genéticas, que preponderam em inúmeras psicopatologias, sem o que, várias terapias permaneceriam inócuas, quando não mais perturbadoras para aqueles que sofrem distúrbios psíquicos, emocionais e comportamentais, como também outros de natureza orgânica. Trata-se do encontro técnico com a anterioridade do Espírito - sua imortalidade e reencarnação - que se lhe torna chave preciosa para compreender as ocorrências do processo da evolução mediante a justiça incomparável do Amor.
Mediante o conhecimento do perispírito, das suas propriedades, dos fluidos que o constituem, assim como da organização fisiológica da alma, que deixa de apresentar-se como algo intangível, imaginativo, para adquirir a sua legítima realidade, como um ser portador de peso específico, com individualidade delineada, assumindo inúmeras personalidades durante o périplo do seu crescimento, pode-se decifrar os perturbadores fenômenos paranormais, nas áreas anímica e mediúnica, que Ihe comprovam a sobrevivência à morte e Ihe demonstram o nível de evolução em que estagia, assim destruindo o maravilhoso, o sobrenatural, o misterioso, dos tempos passados em torno da sua realidade, que são do agrado das mentes infantis, veementemente combatidos pelo senso cultural e acadêmico.
Todos os fatos estudados pelo Espiritismo repousam nas leis naturais, de maneira alguma entrando em choque com os processos de investigação realizados pela Ciência, com a diferença que essa foi elaborada a pouco e pouco através dos milênios, graças a ininterruptas observações, correções, ampliações, enquanto que o Espiritismo, em menos de dois lustros ofereceu as respostas hábeis que o tornaram compatível com esse extraordinário cabedal consagrado pelos séculos, que é o conhecimento científico.
O conceito de liberdade, ambicionado por todas as criaturas nos diferentes períodos da humanidade, encontra no Espiritismo, o seu mais compensador desdobramento, por ser facultado a todo Espírito, criado simples e ignorante, utilizar-se dessa concessão, tornando-se ditoso ou desventurado, conforme Ihe aprouver, sem, no entanto, deixar de alcançar a felicidade que lhe está reservada, mesmo que através do esforço que lhe é imposto pela responsabilidade que vige na sua consciência.
Ser livre, de maneira alguma é apresentar-se como inconseqüente ou libertino, desejando experienciar comportamentos agressivos e desrespeitosos aos direitos alheios e à Vida.
O indivíduo cresce inevitavelmente dentro de padrões de elevação moral, que se encontram adrede estabelecidos, e de que não se pode furtar. Desse modo, deixa de ser máquina com fatalidade final estabelecida na consumpção orgânica, para tornar-se autor dos valores que conquista a pouco e pouco, empenhado no afã da busca de realização total.
Tendo ingerência em todos os ramos do Conhecimento - desde que o Espiritismo estuda as causas, enquanto a Ciência investiga os efeitos, conforme acentuou o Codificador Allan Kardec - nunca se detém, porque penetra a sonda das suas investigações nas matrizes vitais do ser, onde dormem ou vigilam as ocorrências de ontem, de hoje e de amanhã, conclamando ao intelecto-moral incessante.
Porque é doutrina dos Espíritos codificada pelo homem não permanece estanque, em razão do processo reencarnatório que traz de volta os missionários da verdade, a fim de que o progresso inestancável prossiga favorecendo a humanidade com os recursos preciosos para o auto-encontro e a possibilidade de desfrutar dos anelos de paz e de júbilo que Ihe estão destinados.
Não pertence a ninguém, sendo luz que verte do Alto na direção da Terra, desalgemando aqueles que se encontravam ergastulados nos instintos primitivos e contemplavam as estrelas com profunda melancolia e interrogações dolorosas.
Sempre atual, o Espiritismo avança com as admiraíveis conquistas do pensamento, que faculta melhor entender-lhe as leis e aplicá-las, tornando a existência terrena mais agradável, propiciatória de harmonia e de objetivos sempre mais nobres, à medida que são conquistados, gerando estímulos para mais avançados esforços.
Jamais ultrapassado, estará sempre à frente do progresso, embora de maneira sutil, que será melhor identificado quanto maior for o seu labor de penetração no complexo mecanismo do ser e da vida.
Atendendo à sugestão de dedicados estudiosos de diferentes áreas do Conhecimento terrestre, no atual estágio de algumas Ciências, procuramos oferecer respostas compatíveis com as questões que nos foram apresentadas, recorrendo, algumas vezes, a Nobres Entidades que nos orientam o destino, de modo a não defraudar a confiança que nos foi concedida e que reconhecemos não merecer.
Buscamos proporcionar raciocínios simples e desataviados, sem as complexidades da linguagem com que se expressam os técnicos nos seus diferentes campos, de forma que o nosso trabalho possa ser entendido por todos e não exclusivamente por aqueles que nos honraram com os questionamentos com os quais convivem e lecionam nas complexas especialidades a que se dedicam.
Possuímos honestidade suficiente para reconhecer que poderíamos haver contribuído de maneira mais profunda e completa. No entanto, porque nos faltam os valores espirituais e culturais necessários, sentimo-nos feliz, por haver feito o que nos foi solicitado, conforme as possibilidades ao alcance e não aos desejos da mente e do coração.
Outrossim, deixamos para apresentar o nosso Prefácio à Obra, na data evocativa do centésimo nonagésimo quarto aniversário da reencarnação de Allan Kardec, assim homenageando o ínclito Codificador do Espiritismo, e o fazemos em um dos intervalos do 2° Congresso Mundial de Espiritismo, na cidade de Lisboa, em Portugal, pelo alto significado desse magno evento para a humanidade, sendo o último do atual milênio nesse gênero, ao mesmo tempo preparatório para o futuro mundo de regeneração, que todos aguardamos.
Exaltando a Era Nova que se aproxima, repetimos como os cristãos primitivos em referência a Jesus:
- Salve, Allan Kardec, aqueles que te amam e te desejam servir, te homenageiam e saúdam!

Lisboa. Portugal, 3 de outubro de 1998,

 

(Mensagem psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, extraída do prefácio do livro Atualidade do Pensamento Espírita, pela Editora LEAL).